Um dia imaginei escrever uma carta para você.
o problema dessa carta é que ela nunca foi postada. As palavras continuam escritas, bem como já estão amareladas pelo tempo.
Talvez um dia, quando a tormenta passar, possas ler o que escrevi lá em uma cinza tarde de fevereiro de 2000.
Até lá fique com um pouco do registro.
...Olho para ela e vejo mais que amor. Olho por sobre minhas grossas sobrancelhas e sinto uma ânsia de querer ela para mim, muito mais que respirar, algo que em prosa, nem a frase mais precisa pudesse provocar. O que sinto não há nomenclatura, ou mesmo alguma cura que valha. É preciso expor por fora, aberto por faca que marca a pele e tatua em cores de sangue, do meu sangue e da minha carne, da minha beleza tardia que muitas mulheres não souberam amar.
É como se fosse necessário agora, calar essa vontade à força.
Mais que derramar gemidos por sobre minha carne frouxa, velha e inerte, gostaria de provar da taça onde está ungindo meu próprio sangue, e do meu gôzo untar como filho, marido e homem , o pai que jamais pude ser.
Assim serias minha. Te lavaria em meu colo, aos cabelos negros e lisos, deitado de olhos abertos e pele molhada, por um único instante, mesmo que esse mundo parasse de rodar, e que se todas as coisas em um cogumelo radioativo fossem destruídas, por ali estaríamos presos e protegidos, eu e você em um quase Hiroshima.
Não posso processar o tempo que em disparada fugiu de nossas mãos, areia ao vento, ponteiros de segundo. Nem mesmo erguer um muro que embruteça a memória, com desculpas que foram feitas para capitular qualquer ação. Não! se fosse possível me entregaria morto para ti. Porque só eu sei o que é, de que é feito e que gosto tem, muito mais do que te dar a vida, te dei ar, sangue e a certeza de que tudo nessa estrada são palavras de despedida. Fique certa que a cada impulso da noite que sempre volta com sua escuridão bonita, sabe-se que o sol amanhã ao acordar estará ajoelhado para ti, lá naquele cantinho que te mostrei(lembra?) é ali o seu porto, onde guardado fica o rei que fica para as juras maiores que se enlutam ao peito, até o fim.
Fim?
quarta-feira, 28 de março de 2007
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