Um dia imaginei escrever uma carta para você.
o problema dessa carta é que ela nunca foi postada. As palavras continuam escritas, bem como já estão amareladas pelo tempo.
Talvez um dia, quando a tormenta passar, possas ler o que escrevi lá em uma cinza tarde de fevereiro de 2000.
Até lá fique com um pouco do registro.
...Olho para ela e vejo mais que amor. Olho por sobre minhas grossas sobrancelhas e sinto uma ânsia de querer ela para mim, muito mais que respirar, algo que em prosa, nem a frase mais precisa pudesse provocar. O que sinto não há nomenclatura, ou mesmo alguma cura que valha. É preciso expor por fora, aberto por faca que marca a pele e tatua em cores de sangue, do meu sangue e da minha carne, da minha beleza tardia que muitas mulheres não souberam amar.
É como se fosse necessário agora, calar essa vontade à força.
Mais que derramar gemidos por sobre minha carne frouxa, velha e inerte, gostaria de provar da taça onde está ungindo meu próprio sangue, e do meu gôzo untar como filho, marido e homem , o pai que jamais pude ser.
Assim serias minha. Te lavaria em meu colo, aos cabelos negros e lisos, deitado de olhos abertos e pele molhada, por um único instante, mesmo que esse mundo parasse de rodar, e que se todas as coisas em um cogumelo radioativo fossem destruídas, por ali estaríamos presos e protegidos, eu e você em um quase Hiroshima.
Não posso processar o tempo que em disparada fugiu de nossas mãos, areia ao vento, ponteiros de segundo. Nem mesmo erguer um muro que embruteça a memória, com desculpas que foram feitas para capitular qualquer ação. Não! se fosse possível me entregaria morto para ti. Porque só eu sei o que é, de que é feito e que gosto tem, muito mais do que te dar a vida, te dei ar, sangue e a certeza de que tudo nessa estrada são palavras de despedida. Fique certa que a cada impulso da noite que sempre volta com sua escuridão bonita, sabe-se que o sol amanhã ao acordar estará ajoelhado para ti, lá naquele cantinho que te mostrei(lembra?) é ali o seu porto, onde guardado fica o rei que fica para as juras maiores que se enlutam ao peito, até o fim.
Fim?
quarta-feira, 28 de março de 2007
distância
Um dia vencerei a barreira que me prende nesse deserto/ e lá, podes crer meu amor/ estarei perto demais de você/ .
Sua imagem exposta em pixels/ símbolos high tech/ criam chagas e fascinam/ quem se comove com um simples adeus/. Todos os momentos estão guardados/ na ampulheta quebrada/ despedida sem abraço, calor ou do meu tempo. Percorro a finitude de cada hora aguardando um "olá"/e esse sorriso que insistes em mostrar/ mais machuca do que afaga/.
Roubo as moedas dos mendigos/ corro perigos no banquete de Jesus/ artimanhas para levar a vida/ antes que ela me leve/.
Você sabe/ eu nunca fui um bom santo/ Esse coração nada tem de sagrado/ é pungente/ lacrado por você eu apenas respiro por respirar/
Nossas juras se esvaziam em piadas de bar/ cotovelos molhados de lágrimas/ e desculpas furadas / para não se machucar: crie outro nick,/ Você mesmo me ensinou/
Uma noite apenas/ é o que peço!/
Apenas uma
Noite/
Para adormecer todo o sempre/.
Sua imagem exposta em pixels/ símbolos high tech/ criam chagas e fascinam/ quem se comove com um simples adeus/. Todos os momentos estão guardados/ na ampulheta quebrada/ despedida sem abraço, calor ou do meu tempo. Percorro a finitude de cada hora aguardando um "olá"/e esse sorriso que insistes em mostrar/ mais machuca do que afaga/.
Roubo as moedas dos mendigos/ corro perigos no banquete de Jesus/ artimanhas para levar a vida/ antes que ela me leve/.
Você sabe/ eu nunca fui um bom santo/ Esse coração nada tem de sagrado/ é pungente/ lacrado por você eu apenas respiro por respirar/
Nossas juras se esvaziam em piadas de bar/ cotovelos molhados de lágrimas/ e desculpas furadas / para não se machucar: crie outro nick,/ Você mesmo me ensinou/
Uma noite apenas/ é o que peço!/
Apenas uma
Noite/
Para adormecer todo o sempre/.
segunda-feira, 26 de março de 2007
esse é daqueles textos velhos, mas não reparem!
Valsinha

A moça que passa apressada quer o disparate. Quer o samba, quer a vida fora das capas de revista.
A velha, que joga farelos de pão aos pombos, quer embora da saudade, sorrir até o fim, se o fim também for embora.
O policial nervoso se agita, balança a coluna, serve a uma dura ginga e se encolhe de medo ao peito.
O homem que toca bumbo no coreto,
É mais sinhô, é mais sinhô, e sabe sim, que nessa vida nem só de grana se faz homem de valor.
Valor
Valor
Pra quê o verde dessa nota
Ou o ouro dessa jóia
Se a alma é luz de toda cor?
De toda cor
De toda cor
O banqueiro está correndo. Com passos firmes ele anda, nem olha para os lados, esses pobres retratos jogados ao chão.
Um louco dança a dança de uma flor.
Faz capoeira sem som e estrela na calçada
Para ele algumas palmas e corre - corre assustado.
Os carros passam, tudo passa nessa lida guerreira.
Frente aos olhos negros, a meninada brinca de equilibrar na travessura
ou na mágica
sua reles sina brasileira.
Agonizam à distância
dos silêncios blindados.
Seja nos semáforos
ou atrás de grades e cadeados
Essa meninada nasceu
para ser Cristo favelado.
Mas tem que ter
valor
valor
Pra quê o verde dessa nota
Ou o ouro dessa jóia
Se a alma é luz de toda cor?
De toda cor
De toda cor

A moça que passa apressada quer o disparate. Quer o samba, quer a vida fora das capas de revista.
A velha, que joga farelos de pão aos pombos, quer embora da saudade, sorrir até o fim, se o fim também for embora.
O policial nervoso se agita, balança a coluna, serve a uma dura ginga e se encolhe de medo ao peito.
O homem que toca bumbo no coreto,
É mais sinhô, é mais sinhô, e sabe sim, que nessa vida nem só de grana se faz homem de valor.
Valor
Valor
Pra quê o verde dessa nota
Ou o ouro dessa jóia
Se a alma é luz de toda cor?
De toda cor
De toda cor
O banqueiro está correndo. Com passos firmes ele anda, nem olha para os lados, esses pobres retratos jogados ao chão.
Um louco dança a dança de uma flor.
Faz capoeira sem som e estrela na calçada
Para ele algumas palmas e corre - corre assustado.
Os carros passam, tudo passa nessa lida guerreira.
Frente aos olhos negros, a meninada brinca de equilibrar na travessura
ou na mágica
sua reles sina brasileira.
Agonizam à distância
dos silêncios blindados.
Seja nos semáforos
ou atrás de grades e cadeados
Essa meninada nasceu
para ser Cristo favelado.
Mas tem que ter
valor
valor
Pra quê o verde dessa nota
Ou o ouro dessa jóia
Se a alma é luz de toda cor?
De toda cor
De toda cor
sexta-feira, 16 de março de 2007
viva os classicos!

Olha, eu pensei em mudar as frases que me decifravam. Sabe lá porquê eu comecei a pensar que isso estava me afetando, então resolvi comentar sobre o nível de rock n´roll que faltava aos meus últimos neurônios ainda não afetados pelo absurdo da música para gostosas e punhenteiros babarem nos domingos chuvosos.
Eu preferiria destilar discografias e festivais imaginários sobre artistas semi mortos anônimos das paradas de sucesso. Sempre gostei da estranheza, por isso fui despedido cedo demais do último trampo. Quem mandou me darem um microfone e a possibilidade de gritar. Aí é que está: na hora de gritar fiquei mudo.
Ainda tem coisas nesse mundo que nem com cartão de crédito se compra.
Clarah
Clarah quer ser diva. Mete-se dentro de um casaco negro godiva em trejeitos de Garbo. Ela fuma apressada. Unhas vermelhas roídas pela tensão de que o mundo anda em rotineiras voltas e mais voltas...
Ela me convida para assistirmos à fitas de Visconti. Anda em passos trôpegos fugindo da chuva. Eu insisto: Clarah aqui é Bagé, sabe o sul? Sim, pior que o sul do paraíso.
Ela não entende.
Acha que o mundo é como seus filmes, livros e discos. Um tempo bonito, mas que já está virando bolor.
Tudo bem.
O seu profile no Orkut com suas fotos abstratas e poses darks são para escapar, que aqui o pão é acompanhado de margarina; o café tem gosto de café, e seus pais fazem arroz com churrasco todo domingo. Tudo bem, que seu coroa está com dívidas e prefere a companhia de uma cerveja aos seus carinhos. E sua mãe está gorda de tanto consumir bolas pra insônia.
"Entenda minha filha que a vida é sempre a mesma".
Ela discute, finge ser inglês. Me xinga em gírias típicas da Picadilly, parecendo uma desbundada chorosa pelos Beatles. Ela não entende.
Que tudo já passou.
Aí resolve fugir. Diz que não vai voltar. Me esqueça! Brada aos ventos do sul.
Ela pensa que amanhã o sol não irá nascer.
Aí volta sempre com suas faces imitadas em espelhos de banheiros imundos. Caras e bocas de musas pálidas em polaroids. Ela sabe mentir.
Fala que amanhã estará lindo o cinema. Que é por lá que ela se encontra. "O cinema expõem meus sonhos coloridos", afirma com a boca em um vermelho cor de sangue.
Para confessar em lânguida que após a projeção continua só, triste e derrotada.
Vítima do mundo, Clarah corta desenhava outras tatuagens com cacos de vidro. "Agora é pra valer!" ela suspira.
Sem aquele "end" sorridente, e o leão da Metro afável em comerciais de celular, Clarah fala com voz mono que aqui não é seu lugar.
Falo que nada disso adianta: "Se quer uma vida melhor vá embora, compre uma moto, viva a vida, conheça o que você tanto quer conhecer".
Dá de ombros, fala alto: Para quê tanta besteira, tentar ser menos alienada, pra que?
Se o mundo está tão devagar
Com seus "mundinhos" sem graça high tech.
Metáforas de parabólicas para se explicar".
Finjo atenção.
- Não me pergunte o que serei
Só o que sei é me esconder. Diz trêmula.
Vivo bem atrás de fotos, de poses e nomes artificiais.
Enquanto essa luz me afoga
Submersa em mares de palavras
Eu não sei nadar...
Eu não sei nadar...
Eu não sei nadar,
Nesse navegar de peixes mortos.
Mentiras e ambição.
Todos na fila bancando heróis mortos em velhos jeans,
esperando que o tempo traga aquela boa resposta.
Mas eu não sei, onde posso erguer a boca para respirar...
Clarah pega um pedaço de vidro quebrado e encena uma reles tragédia
"Veja como dilacero esse retrato de pele pálida
Com lápis afiado". Anuncia.
Ergue o corpo e na frente de todos do bar 24 horas, começa a chorar.
Entre sussurros, lágrimas e prantos, cada gota de chuva molha a areia do tempo, escrevendo que a porta está trancada.
Clarah volta ao silêncio.
Quando encontrarem seu corpo estará lá junto ao vidro e aos pulsos rasgados umas frases desconexas para aqueles que pensavam entender Clarah.
"Eu esperava alguém bater.
O que vejo são meus sonhos em púrpura névoa
Desaparecerem
Para esse mundo estranho,
cheio demais
de estranhos.
Todo esse povo exibicionista
Sadio como fotos de revista
presos à publicidade
Que cega
Não me filma
Só me esconjura:
Você está fora da moda!!
Por que vocês não me encontraram?
Clarah queria ser diva. Bela, pálida eterna.
Suas fotos são mais bonitas agora. Ela estaria feliz.
Clarah estaria feliz porque dessa vez não foi apenas ela que acabou chorando.
Ela me convida para assistirmos à fitas de Visconti. Anda em passos trôpegos fugindo da chuva. Eu insisto: Clarah aqui é Bagé, sabe o sul? Sim, pior que o sul do paraíso.
Ela não entende.
Acha que o mundo é como seus filmes, livros e discos. Um tempo bonito, mas que já está virando bolor.
Tudo bem.
O seu profile no Orkut com suas fotos abstratas e poses darks são para escapar, que aqui o pão é acompanhado de margarina; o café tem gosto de café, e seus pais fazem arroz com churrasco todo domingo. Tudo bem, que seu coroa está com dívidas e prefere a companhia de uma cerveja aos seus carinhos. E sua mãe está gorda de tanto consumir bolas pra insônia.
"Entenda minha filha que a vida é sempre a mesma".
Ela discute, finge ser inglês. Me xinga em gírias típicas da Picadilly, parecendo uma desbundada chorosa pelos Beatles. Ela não entende.
Que tudo já passou.
Aí resolve fugir. Diz que não vai voltar. Me esqueça! Brada aos ventos do sul.
Ela pensa que amanhã o sol não irá nascer.
Aí volta sempre com suas faces imitadas em espelhos de banheiros imundos. Caras e bocas de musas pálidas em polaroids. Ela sabe mentir.
Fala que amanhã estará lindo o cinema. Que é por lá que ela se encontra. "O cinema expõem meus sonhos coloridos", afirma com a boca em um vermelho cor de sangue.
Para confessar em lânguida que após a projeção continua só, triste e derrotada.
Vítima do mundo, Clarah corta desenhava outras tatuagens com cacos de vidro. "Agora é pra valer!" ela suspira.
Sem aquele "end" sorridente, e o leão da Metro afável em comerciais de celular, Clarah fala com voz mono que aqui não é seu lugar.
Falo que nada disso adianta: "Se quer uma vida melhor vá embora, compre uma moto, viva a vida, conheça o que você tanto quer conhecer".
Dá de ombros, fala alto: Para quê tanta besteira, tentar ser menos alienada, pra que?
Se o mundo está tão devagar
Com seus "mundinhos" sem graça high tech.
Metáforas de parabólicas para se explicar".
Finjo atenção.
- Não me pergunte o que serei
Só o que sei é me esconder. Diz trêmula.
Vivo bem atrás de fotos, de poses e nomes artificiais.
Enquanto essa luz me afoga
Submersa em mares de palavras
Eu não sei nadar...
Eu não sei nadar...
Eu não sei nadar,
Nesse navegar de peixes mortos.
Mentiras e ambição.
Todos na fila bancando heróis mortos em velhos jeans,
esperando que o tempo traga aquela boa resposta.
Mas eu não sei, onde posso erguer a boca para respirar...
Clarah pega um pedaço de vidro quebrado e encena uma reles tragédia
"Veja como dilacero esse retrato de pele pálida
Com lápis afiado". Anuncia.
Ergue o corpo e na frente de todos do bar 24 horas, começa a chorar.
Entre sussurros, lágrimas e prantos, cada gota de chuva molha a areia do tempo, escrevendo que a porta está trancada.
Clarah volta ao silêncio.
Quando encontrarem seu corpo estará lá junto ao vidro e aos pulsos rasgados umas frases desconexas para aqueles que pensavam entender Clarah.
"Eu esperava alguém bater.
O que vejo são meus sonhos em púrpura névoa
Desaparecerem
Para esse mundo estranho,
cheio demais
de estranhos.
Todo esse povo exibicionista
Sadio como fotos de revista
presos à publicidade
Que cega
Não me filma
Só me esconjura:
Você está fora da moda!!
Por que vocês não me encontraram?
Clarah queria ser diva. Bela, pálida eterna.
Suas fotos são mais bonitas agora. Ela estaria feliz.
Clarah estaria feliz porque dessa vez não foi apenas ela que acabou chorando.
quinta-feira, 15 de março de 2007
Ópio
Tenho andado com a cara cerrada, olhos miúdos e expressão desenhada a cinza em gotas gauches sombrias. Não sou viúvo da lua, nem vejo na rua tudo quefaça encantamento, mas ando mesmo encabulado, cabisbaixo, sem graça, se bem notado até um pouco conformado. Nivelando por baixo, tô com uma febre que não arde, nem moléstia dá. Dá é um cansaço danado que força os olhos a quererem enxergarem algo acima do nada. Algo acima das coisas que são inatingíveis ou mesmo impossíveis como poder voar com um colante rubro ou então sapatear dando inveja à Gene Kelly ou Fred Astaire, seja lá o que for, a vida parece toda sem graça quando eu fico assim. Doe pacas! É uma dor tão complexa que não precisa ser analista, psicólogo ou qualquer persona com jaleco que atesta fácil: sou cobra criada em formato de cabra sem nexo, um final sem "happy end" em um monólogo de Bergman.
Quer saber: foda-se! Toda a palavra bem postada em um oceano branco é um convite à transgressão. Quero mais é me afogar nos perigos das linhas tortas que odeiam os conservadores.
A partir de hoje a loucura é por minha conta!
Sintam-se convidados!
quarta-feira, 14 de março de 2007
telenovelas são caricatura do Brasil
Páginas da vida: uma pálida caricatura sem bossa do país

A novela escrita por Manoel Carlos é o protótipo de um Brasil inexistente. Claro, é uma novela e por si uma obra de ficção, mas criar uma novela que detenha o espectador pelo sentido de aproximar a trama vivida pelos personagens com o nosso cotidiano, é uma afronta nesses dias caóticos.
A novela amargou péssimos índices de audiência e foi sem dúvida uma obra "insossa". A única coisa que ficou de interessante ocorreu logo nos primeiros capítulos, quando um depoimento revelou o Brasil que todo mundo quer "maquiar": uma senhora revelou que só conhceu o orgasmo ao ser estimulada por uma canção do Rei Roberto Carlos.
Não precisa ser um sábio em polêmicas alimentadas pela TV, para saber que "choveram" reclamações à emissora sobre o depoimento. Óbvio que ali boa parte da população ficou estarrecida, afinal anos e mais anos de hipocrisia gerada por instituições como a própria Globo, agora retornavam como pedradas ao bom mocismo típico dela.
Páginas da Vida foi isso: um produto bem acabado com boa trilha com resgate para a bossa nova, e a qualidade que marca as produções da Globo, porém uma fria e mal sucedida tentativa de resgatar a imagem charmosa do Rio (ótima forma de promoção da imagem da cidade em tempos de Pan ou de guerra civil além dos Morros) o que não caiu bem, porque ao apresentar personagens de classe média - alta, sorridentes e pouco preocupados com o caos que da cidade e do país, notamos o próprio dilaceramento da representação de uma classe e de símbolos que não existem mais na sociedade nacional. A família protagonista, que tinha como figura principal o ator Tarcísio Meira, é uma caricatura grotesca de um símbolo extinto nos dias de hoje.
Páginas da Vida foi mais uma forma de esconder o Brasil que está aí todos os dias, seja nas favelas ou nas esquinas, nos podres poderes e nos planaltos. O brasileiro como disse certa vez Joãozinho Trinta não gosta de ver miséria, gosta de ver luxo. Mas nem sempre o brasileiro gosta de ver um país, que não é o seu "país real" tão mal caracterizado na "telinha", afinal se é para ver tramas exdrúxulas de baixa qualidade é só ligar a telinha na Globo e ver o BBB, outra "bênção" alienante do canal da família Marinho.
terça-feira, 13 de março de 2007
O Capricórnio

Lado A.
Escrevo sobre coisas passadas em algum velho janeiro. O que ficou nesse verão tardio foram porres, delírios e uma solidão viscosa que embriaga a todos na pequena cidade ao sul de todo o sul.
Desempregado, passo as tardes escrevendo sobre o que poderia ser e jamais consegui ser.
Uma espécie de autópsia da alma feita enquanto respiro, enxergo e grito. Se bem que esses gritos já foram sufocados há muito tempo.
Mas o que digo é que fico cansado de vivenciar e observar as vidas cheias de lama e torpor que se amontoam pelo centro da cidade. Todas apagadas em fé desesperadora e um acalanto tomado de pesar que os tornam seres mofados e ocos, sorrindo por ilusões baratas.
Vemes, insetos em volta do neon dos bares. Restos de nada com nome, sobrenome e RG.
Por isso pareço cada vez mais cheio de luto, no olhar e até nos verbos que deixo a ferrugem tomar. Não falo. Passo a ponta para outros que vivem suas quimeras com gargalhadas afoitas. Pensam que o mundo é deles. Coitados, as horas que se arrastam são a véspera de nosso fim. Passo a bola e vou de olhos cerrados ver o vinil ficar mais arranhado.
Belo blues, cheio de swing, algum negro endividado com o demônio canta abafado sobre sua alma. Alma? Nesse apê? poderia ser a salvação se houvesse alguém que cantasse para mim.
Desista.
Encha o copo com sede, tente dormir. O verão apenas começou.
Lado B.
Não consigo acostumar essa alma moribunda com doses apáticas de rotina. Preferia enlouquecer, mas será que não é isso que me perturba: Ter vontade de ficar louco, rodar o mundo sem um giro qualquer, apenas pelas órbitas dos olhos, ver mil imagens desconexas e sentir liberdade? Dizem ser a loucura uma reles prisão que acomete os que não souberam perder. Eu digo que a demência é a liberdade sentida, plena e completa sem as algemas da sociedade.
Por isso deixo aqui alguns aforismos. Opa! palavra bonita esta. Diz o caro Aurélio que aforismos são citações breves. Eu digo que são pensamentos necessários, urgentes. Tolices que vestem os idiotas de sábios, porém sabedoria é uma anestesia para esquecermos facilmente de nossos medos.
Ditados, frases de efeito, citações bem postadas, olhos marejados por cenas expressionistas... balela, nossos dias apressados não precisam de sábios. Hoje os sábios vendem marketing e ousam ao proferir que o mundo só é permitido aos vencedores, e não é verdade?
Até Orwell virou programa de televisão.
Quem quer dinheiro, entrega a alma à salvação. Diz o pastor que cursou todos os cursos de vendas e motivação.
O povo não quer fé, só quer fama.
E nos blogs, e nos fotologs há desesperança e entrega aos flashes, como um escape a mediocridade dos novos tempos. Então, somos entregues à promessas, o que você vai ser quando crescer? O mundo não precisa de filosofia.
Todas as possibilidades estancaram. As palavras que precisam ser ditas calaram-se brevemente. O questionar, tão preciso tornou-se engodo. Chega de palavras bonitas não traduzidas na rua, lá palavras e gente são servidas como pedaços de pão aos pés de Deus.
Dobrem os sinos ao infelizes que se arrependem de viver! Urgência na procura exata de uma palavra para definir o impossível.
Eu preciso apenas de um verso...
Aqui neste pampa sombrio a vida parece se esconder.
Tímida e prosaica, enluta a todos que almejam correr
para longe.Longe demais de tudo.A alma do pampa é feita de distâncias.
Flores postas na ceia,
Fome aos cotovelos do mundo.
Talheres com brilho,
agora em silêncio de ferrugem.
Deserto verde.
Fotografias amareladas
daqueles pensamentos que não revelei.
O tempo realmente não pára!
Ontem (jogos de amor vadio I)
Como posso jogar esse jogo se não consigo aprender a ler as cartas? Como posso vencer se não sei atirar?
Como posso não chorar se aprendi a fugir de todos, sempre naufragando meus olhos?
Como posso, agora erguer minha voz e cantar que sei, e que sempre soube, que morrer cedo seria a melhor saída?
Como posso andar, sem coragem?
Ver as janelas do quarto aberta, essa luz fosca banhar teu corpo e não ter uma palavra para te possuir,
uma só que te faça feliz,
retribuindo todos esses sorrisos ingênuos que você me dá.
Como posso?
Prefiro então ficar
nesses momentos de paz, em meio a campos minados, a vítimas mudas que não sabem desenhar suas promessas e juras de amor.
Como poderei te encarar de novo, sóbrio mar de outrora, se minhas vestes esfarrapadas apenas mantêm seca a alma que fingi despir?
Essas regras no tabuleiro acomodam os fantasmas que persigo.
Essas falas decoradas versam mentiras que preciso vestir.
Como posso enlouquecer se me pedem urgência e sanidade nas capas de revista? E a TV tão bonita e colorida recorta finais de semana, poses, flashs e uma musa avant gardê, tão bela opiácea, que ocupa presa minha íris à soníferos de esquina.
O que posso fazer se não sei desarmar a resistência e encarar a presa fácil que sou.
Entregar cada idéia, que tímida, ficou desbotada, calada, censurada
Diga: o que podemos fazer amanhã?
Como posso não chorar se aprendi a fugir de todos, sempre naufragando meus olhos?
Como posso, agora erguer minha voz e cantar que sei, e que sempre soube, que morrer cedo seria a melhor saída?
Como posso andar, sem coragem?
Ver as janelas do quarto aberta, essa luz fosca banhar teu corpo e não ter uma palavra para te possuir,
uma só que te faça feliz,
retribuindo todos esses sorrisos ingênuos que você me dá.
Como posso?
Prefiro então ficar
nesses momentos de paz, em meio a campos minados, a vítimas mudas que não sabem desenhar suas promessas e juras de amor.
Como poderei te encarar de novo, sóbrio mar de outrora, se minhas vestes esfarrapadas apenas mantêm seca a alma que fingi despir?
Essas regras no tabuleiro acomodam os fantasmas que persigo.
Essas falas decoradas versam mentiras que preciso vestir.
Como posso enlouquecer se me pedem urgência e sanidade nas capas de revista? E a TV tão bonita e colorida recorta finais de semana, poses, flashs e uma musa avant gardê, tão bela opiácea, que ocupa presa minha íris à soníferos de esquina.
O que posso fazer se não sei desarmar a resistência e encarar a presa fácil que sou.
Entregar cada idéia, que tímida, ficou desbotada, calada, censurada
Diga: o que podemos fazer amanhã?
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